A morte de Ivan Ilitch

sobre o autor
Liev Tolstói um escritor russo amplamente conhecido pelo mundo por suas obras como Guerra e Paz e Anna Karenina (duas obras que sempre tive preguiça de começar, mas depois de ler Ivan Ilitch, já entraram pra minha lista). Ele começa sua trajetória como escritor quando estava no exército. Sua passagem pelo exército fora muito traumática, e ele acaba se tornando um anarquista pacifista que chegou a influenciar até Mahatma Gandhi.
"A verdade é que o Estado é uma conspiração desenhada não somente para explorar, mas acima de tudo para corromper seus cidadãos... De agora em diante, eu jamais servirei a nenhum governo em nenhum lugar."
Tolstói considera equivocada a doutrina da Igreja, pois em sua visão os pensamentos de Cristo foram corrompidos. Essa negação ao Estado e a Igreja fizeram Tolstói ser excomungado pela Igreja Ortodoxa. A morte de seu irmão e o seu sepultamento foram para Tolstói o primeiro encontro com a questão das questões. Eis um elemento central da literatura deste autor, sobre o qual relatava ser obsessivo pelas questões da morte. Renunciou a propriedade privada, renunciou também aos direitos autorais, abandonou a caça, tornou-se vegetariano, distribuiu seu dinheiro aos pobres e renunciou também a seu estilo de vida aristocrático e morreu de pneumonia após fugir de casa em meio ao inverno.
sobre a obra
Ivan é um burocrata que com série de privilégios ao longo de sua vida se torna um juiz. Ele casa, tem filhos e um estável que lhe paga bem. Poderia ser a vida a ser almejada por qualquer um, não é mesmo? A história começa com a morte desse homem tão decente com a vida aprovada pela sociedade. Mas sua história, por mais clássica e atual que possa parecer, vem cheia de questionamentos.
sobre a obra com spoiler
Ivan leva sua vida burguesa e cheia de facilidades vindas de sua classe social leve e agradável. Decide em certa altura que a mulher que saia poderia tornar-se sua esposa. Não que a amasse, mas simplesmente porque as coisas são como são. Com um emprego estável e um casamento sem grandes atritos, Ivan seguia sua vida quase que monótona. Para preencher o vazio de seus dias, começa a promover jogos para seus amigos em sua casa, o que acaba borbulhando em seu casamento. Mas entre jogos, festas e trabalho, ele cala todo o mundo que possa lhe afetar e assim, segue seguindo sua vida de Juiz. Casado, bem posto e com filhos, a certa altura, muda de cidade e resolve reformar a casa para que pareça como de alta classe e durante a mudança e decoração da casa, ele tropeça em uma cortina e sente uma fisgada em seu rim, que a princípio nada pareceu. Pouco a pouco essa dor vem o consumindo, de modo que toda sua alegria vai se esvaindo. Cada vez mais impaciente com a família e amigos que o tratam como se estivesse doente, Ivan com o tempo se dá conta que está morrendo. E com o passar do tempo, assim que percebe o tempo passando, começa a tomar desgosto por tudo e de todo o fingimento que todo mundo a sua volta demonstra ter. A dor é simbólica, à medida que ela vai aumentando, Ivan vai enxergando as imperfeições da vida que julgava ser tão perfeita; tudo que lhe era alegria se transforma em desprezo. A vida começa a amargar, que nem o sabor que sentira em sua boca.
Quando seu quadro piora, Ivan é cuidado por Guerasin que cuida de Ivan sem querer nada em troca, sem fingimentos e abordando o tema da morte sem constrangimentos. E é na presença de Guerasin que Ivan sente um alívio da dor que sente. Eles mal conversam, Guerasin apenas cuida das fezes, dos remédios e de certa forma, das dores de Ivan. Esse alívio de enxergar uma verdade de alguém desinteressado é o que torna objeto de apreço. No auge da sua doença e de seus pensamentos passa a questionar toda a sua vida. Será de fato que o que vivera tenha sido também um fingimento? E quando ele tenta lembrar dos momentos que teve feliz, sempre lembra de momentos da sua infância e nunca da vida que montara. Ivan então é oprimido pela dor, agora não só a dor física que sentia em seu corpo, mas também a dor de ter acordado para a realidade do que foi a sua vida. A dor física lhe traz angústia e é levada para seu inconsciente e agora se torna uma só. Essa dor só não é sentida com Guerasin, pois é com ele que Ivan consegue aliviar suas angústias e seus pensamentos sobre a vida que tivera e sobre a morte que o cerca.
É um livro simples, que conta a vida de qualquer um. Qualquer um que modela sua vida pra encaixar aos padrões sociais que nos é empurrado. Qualquer um que não se questione, que não saiba os porquês que se está fazendo algo. Qualquer um que vive por aparência e daí não vive. Que não vive por si, que não sabe sobre o que quer ou o que sente. Essa é a história de Ivan, em 1886, mas poderia ser a vida de qualquer um em 2021.