A vida como ela é... Ou como ela se tornou

A vida como ela é... Ou como ela se tornou

29e19e97c4b5057f16a9031b47445549Teve alguns dias desse ano que fiquei sem celular. Ele simplesmente pifou, sem dar sinais de que isso iria acontecer, sem que eu pudesse me previnir ou pensar num plano B. E depois que fiquei sem ele por esses dias, demorei mais uns dias até comprar outro e pude contemplar o prazer da vida sem celular.

Sou super adepta dos smartphones desde que eles surgiram e, dentro do meu limite financeiro, sempre que pude tive um. Comecei a ter antes mesmo de ser comum  ver as pessoas olhando para baixo, checando notificações e minha família me julgava e brigava comigo o tempo todo por fazer isso (“Sai do celular!”, “Fica no celular o dia todo, credo”). E isso porque aquela época (uns 5 anos atrás) não existia Whatsapp, Instagram e nem o Facebook dos textões.

Na semana que fiquei celular, acabei tendo uma vida nova. Sai de casa sem olhar o melhor caminho no Waze, não tirei foto da minha comida nem do meu cachorro para postar no Instagram, não reportei as minhas mesmisses no SnapChat e nem fiquei sabendo da vida de ninguém. Não me chateei com textões no Facebook e também não dei risada com o humor ácido do Twitter. Fiquei sabendo das notícias através do jornal (da TV) e algumas olhadelas na internet.

8dc46fdaeba792ea3d934fc47141be1fNessa semana sem celular, calhou que tive alguns compromissos e, o fato de estar sem celular me fez ser mais pontual. Sair de casa cedo, cumprir com horários. Aliás, fiquei esperando amigos que tinham celular e o usaram como desculpa para se atrasarem (“mas avisamos no whatsapp”). Sofri do desprazer de conviver com todo mundo que a cada 15 minutos checa e-mails e mensagens, agindo como se estivesse sozinho mesmo num grupo de 10 pessoas.

Nesses dias sem celular ví como meu dia era longo e cabia muitas atividades, mesmo que pequenininhas. Achei inspirações nas coisas cotidianas, assisti um filme sem dispersar, conversei olhando no olho. Percebi que a gente perde muito tempo fazendo nada e vários nadas durante o dia, que perdemos momentos, que nos afastamos das pessoas.

O que vivi nesses dias foi estranho, me senti um pequeno etezinho no mundo. Um mundo onde toda conversa tem uma interrupção, onde a discussão acaba numa googlada, onde muitos minutos de silêncio são comuns.

Depois disso, comprei um novo celular e talvez tenha voltado com as mesmas manias de antes. Tento me policiar para usar menos e viver mais. Deixar o celular guardado quando estou com amigos, usar em alguns momentos do dia, não ficar passeando pela timeline o tempo todo. Usar para coisas mais agregadoras, para inspirar, para ler textos, mas não para perder o contato. É difícil fazer isso, ainda mais quando o meio influencia a gente fortemente, mas temos que pensar que a vida passa enquanto checamos nossa timeline.