Assim como os cachorros

Em um dia de sol e céu azul em meio ao inverno de Berlim, fui dar uma volta no parque e aproveitar o belo dia. Os dias de sol costumam ser raros no inverno – apesar desse ano o sol ter aparecido bastante -, que normalmente é acompanhado de dias frios e cinzentos e algumas vezes neve. Então, quando o sol aparece, as pessoas saem as ruas com seus animais, crianças ou sozinhas mesmo para aproveitar a vitamina D natural. Apesar do sol, o dia ainda é frio e até mais frio do que um dia cinzento seria, mas o sol convida todos a sairem de casa, inclusive eu.
Nesse dia, me sentei em um banco estrategicamente localizado entre o sol e uma colina, onde normalmente os donos levam seus cachorros e os soltam para brincarem ao ar livre. Alguns minutos ali sentada, três pessoas chegam acompanhadas de seus três cachorros. Raças diferentes, comportamentos diferentes, idades diferentes, porém os três carregavam em si uma imensa alegria de estar naquele parque, aproveitando também o dia de sol. Seus donos começaram a atirar os brinquedos e eles desciam e subiam o pequeno morro em segundos, vezes esbarrando uns nos outros, vezes tropeçando nos buracos ali encontrados, mas com uma excitação e alegria que fizeram aquele momento ser único e exclusivo.
E dentro das minhas ideias malucas fiquei pensando em como seria viver a vida na perspectiva de um cachorro, como se a vida fosse apenas o dia de hoje, como se não houvesse preocupações acumuladas até o dia acabar. Como seria viver um dia de cada vez em que todos os momentos fossem aproveitados ao extremo, onde as pequenas alegrias fizessem o nosso dia valer a pena, as coisas simples.
Diferentemente dos cachorros, sabemos que a vida tem um amanhã e um depois de amanhã. Mas acabamos que estamos sempre ocupados demais, correndo demais, fazendo coisas demais, que um dia de sol na colina passa por nossos olhos e não ganham o mesmo brilho, nem a mesma graça. Se só por um dia nos desconectássemos de tudo e aproveitasse apenas o dia de hoje, sem MAS. E, assim como os cachorros, aproveitássemos mais as colinas no parque, os brinquedos, a liberdade e os dias de sol.
Mas né, isso foi só um pensamento que me ocorreu enquanto eu observava a felicidade simples e até inocente daqueles cachorros enquanto eles subiam e desciam da colina atrás dos seus brinquedos para então depois irem relaxados e realizados para suas casas.