[diário da quarentena] - semana 3
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>>> já sentei umas três vezes (em semanas diferentes) pra tentar escrever o que estava sentindo nesses tempos de quarentena. não consegui. não por não estar sentindo nada, acho que até impossível isso nesse momento, mas por não conseguir escrever uma linha contínua de pensamento. várias coisas vão me passando na cabeça, em total desorganização e quando sento pra tentar por ordem em alguma idéia que me passa, o foco logo vai embora. há duas semanas atrás, estava mais ansiosa, lendo e consumindo todo o conteúdo possível sobre o coronavírus, atenta a notícias. os dias foram passando, parei de mergulhar nesse mar de notícias o tempo todo e me larguei entre séries e filmes e no meio tempo, algumas atividades físicas, como dançar. consegui pouco a pouco ir desgrudando do mundo do covid e fazer coisas que me davam pequenos prazeres momentâneos. fiz receitas, fiz desenhos, algumas aulas, me joguei nos livros, conversei com um monte de gente online. ainda ando um tanto quanto dispersa, mas não é uma situação comum, não é mesmo? eu sou uma das poucas pessoas que já normalmente fico em casa, mas o não poder sair mexeu comigo. lembrei de um acontecimento da época da faculdade: minha família levou minha chave e fiquei presa dentro de casa, e precisava sair pra ir pra faculdade. digamos que com 20 anos, qualquer oportunidade pra não ir pra facul é bem vinda, mas naquele momento eu tive uma crise de ansiedade. um amigo meu na época e também vizinho, ficou me fazendo companhia pela janela com grades até alguém chegar e abrir a porta. ficar trancada em casa hoje me remete à uma grande ironia da vida. ficar preso dentro de casa encarando os pensamentos, não podendo se esconder dentro da rotina que criamos, envolvidos pelo trabalho, estudos, hobbies. tendo que encarar nosso eu todos os dias, nossa realidade nua e crua, saber lidar com as ansiedades camufladas. com a quarentena – e com isso, o número de pessoas em casa, aumentou também o número de violência doméstica, aumentou o número de impactos psicológicos (stress, ansiedade, depressão), aumento do número de divórcios, obesidade, etc. além de todo o impacto do próprio corona como doença, além da economia, toda essa pandemia trás um momento importante para nós avaliarmos nosso relacionamento, com o outro – nos preocupamos com o outro quando ficamos em casa, quando vamos no mercado e compramos somente o necessário, quando participamos (ainda que compartilhamento) de campanhas para ajudar pessoas que precisam de ajuda – e com nós mesmos – como estamos nos cuidando mentalmente, não cedendo as pressões de ser ativo e consumindo todos os conteúdos possíveis, não se culpando por não estar sendo “produtivo”. que a pandemia será um grande ponto de virada para mudanças é um fato, mas não só economicamente – que é o que todo mundo faz questão de lembrar -, mas também nas relações de trabalho e relações pessoais. pelo menos é onde deposito minhas esperanças, nesse despertar do ser humano; que as pessoas comecem a olhar pra dentro, aceitem suas vulnerabilidades, olhem pro outro e revejam as prioridades. por ora, sigo na quarentena tentando encontrar o meu equilíbrio, se é que isso é possível. no mais, lavem as mãos e fiquem em casa <3.
>>>> algumas dicas
>> para quem quer fugir do tema corona, indico a tetralogia da Elena Ferrante que foi o que me envolveu nessas ultimas semanas e me fez esquecer do que está acontecendo lá fora. a história começa quando o filho de Lila liga para a amiga de infância de sua mãe porque a mãe dele havia sumido. Lenu, a amiga, despacha o filho e decide que a melhor maneira de frustrar os planos da amiga é escrever, linha por linha, toda a vida que dividiram. é uma seqüência de livros muito envolvente.
>> álbum do Emicida – AmarElo que já nem é uma novidade, mas é o que eu mais tenho ouvido ultimamente e é de uma delicadeza e de uma potência tão grande, que cada vez que eu ouço me envolvo com uma música diferente, me emociono, enfim, um álbum com muitas camadas.
>> o filme The Plataform, do Netflix, que é um filme pesadíssimo e também importante para mostrar que a falha da estruturação social. um filme complexo que até agora ainda estou digerindo e pensando sobre. aconselho a assistir em horários não relacionado à refeições.