o "miranha" dentro de mim

o "miranha" dentro de mim

Aviso: este artigo contem spoilers.

assisti ontem Homem Aranha - sem volta para a casa e, depois de escrever minhas páginas matinais hoje cedo, sobre esse processo de "morte" que venho passando, comecei a pensar no filme e, com a minha psicanálise de padaria (meu conhecimento superficial de psicanálise que vão surgindo frente à situações que vão me aparecendo na terapia, principalmente e aí vou aprofundando e estudando pouco a pouco), analisei como a história do “Miranha” passa por um processo semelhante ao meu.

O começo do filme já é bem agitado, com todo mundo descobrindo a identidade do Homem Aranha. Até o filme anterior, poucas pessoas sabem que Peter Park é o Homem Aranha, e nesse filme sua identidade é revelada para o mundo (ou pelo menos NY). Ele é assediado, sofre, perde oportunidades, porque não somente é revelada sua identidade como o fato dele ter matado um vilão do filme passado que queria matar todo mundo. Entre amor e ódio, Peter não se sente pertencente mais a esse mundo, que agora é desconhecido para ele, e pede ajuda ao Dr. Estranho (personagem que viaja no tempo) para apagar essa memória de todos. Daí dá uma merda, abre a porta dos universos paralelos e os vilões dos outros filmes do Homem Aranha aparecem para matá-lo. Até aí tudo bem, seria só uma história de heróis, o bem contra o mal, etc. etc. Mas veja, o Homem Aranha quando tem sua identidade revelada ele passa a ser um só, o Peter e o Homem Aranha e, assim ele se descobre bom e mal, querido e não querido, passa a sofrer por não ser visto por alguns como um aluno inteligente, como um namorado, como um amigo,- que era em um personagem - e sofre também por ser condenado como um assassino, como um destruidor, um mentiroso. Quando a caixa de Pandora é aberta, saem de lá os medos e sombras que o Homem Aranha enfrentou no passado. Ao invés de matá-los, como fizera nos outros filmes, ele decide salvar seus inimigos, e mais tarde surgem outros Homens Aranha do Aranhaverso para ajudá-lo na missão. Esse é o momento de confronto de Peter com seus medos, suas sombras (vale lembrar que, nos filmes anteriores, a cada vilão, Peter acaba tendo uma imersão de descobrimento pessoal) e, cada versão dele mesmo, o ajuda a enxergar uma nova saída. Aliás, esse embate com os vilões começa após da morte da tia May (que é quem o cria, que no filme tem o papel de mãe/família). Ele descobre várias versões de si mesmo e cada monstro, mágoa que tem dentro dele que precisa ser trabalhado. Por fim, depois dessa imersão em si, o Dr. Estranho não consegue fechar caixa de Pandora de Peter, que percebe que, para conseguir seguir em frente, ele precisaria que ninguém se lembrasse dele (o equivalente a morte do eu). Ele não morre no filme, afinal de contas a franquia deve continuar, mas ele morre na memória de todos, portando ninguém mais sabe quem ele é. No fim, ele sabe quem ele foi e, que para seguir ele não poderia mais ser quem ele era, quem as pessoas conheciam. Por isso foi necessário morrer para o mundo o Peter do passado.

Mas essa é só uma análise de padaria inclinada ao meu eu, visto que estou passando por esse momento na minha vida. Pode ser que tenham outras questões a serem mais aprofundadas, ou talvez seja realmente só mais um filme de herói. Sabe quando você compra algo novo e passa a ver sempre o seu algo em todos os lugares? Então, talvez eu esteja passando por essa repetição. Mas se ontem terminei o filme pensando: “Ai ai, outro filme do Homem Aranha igual aos outros”, hoje estou aqui tentando encontrar os Peter’s dentro de mim.