sobre livros

sobre livros

eu nunca fui uma leitora assídua no passado. apesar de ser uma nerd nos anos 2000 - que é muito diferente de ser uma nerd agora -, meu mundo se construiu de outra maneira. ainda assim muito lúdico, mas muito com o apoio da internet, desenhos, comunidades do Orkut e mensagens instantâneas. ler era mais uma obrigação do colégio. e também era o papel que minha irmã levava consigo. ela era a possuidora dos livros - e com isso, da inteligência - da casa. e eu era a menina do computador, da tecnologia (isso me levou a acreditar na minha desastrosa carreira com TI - mas isso já é outra história). passado esse hiato afastada dos livros, só lia quando estava no ônibus ou no metrô a caminho da faculdade ou trabalho. muitas vezes impedida por não conseguir um lugar ou perdendo a batalha contra o sono. depois comecei a trabalhar de carro e os livros foram cada vez mais se afastando dos meus dias. corta pra Alemanha, quatro anos atrás. sozinha a maior parte do tempo, sem conhecer a língua, sem conhecer ninguém, sem conhecer eu mesma. os livros voltam pra minha vida. começam timidamente a fazer parte dos meus dias, até tomarem conta de praticamente todo o meu dia. hoje minha relação com os livros é carnal e porque não até poética. junto com a análise que faço, sempre me faço acompanhar de um livro. os livros permeiam minha história e muitas vezes contam a história que eu queria contar. chego até a acreditar que não sou eu quem escolho os livros que leio, mas que eles chegam e se encaixam na minha história. me dei conta oficialmente quando terminei o livro "O deserto dos tártaros" e (spoiler alert) o grito que o personagem dava ao não querer ficar preso em sua vida era o mesmo que o meu. sem falar quando me envolvi na biografia de Frida Kahlo, onde suas obras e sua genialidade me tocaram tanto, que vazaram pelos meus desenhos e pelas minhas reflexões. "O papel de parede amarelo" e a mulher enlouquecendo pelo seu próprio eu, presa pelos seus pensamentos. sem contar os esbarros e ensaios filosóficos que venho encontrando pelo caminho. Espinoza, Simone de Beauvoir, Jung, Maya Angelou... se antes eu não lia, porque achava que não me cabia, que aquele papel não era meu, que já estava tomado, hoje são esses livros que me ajudam a me reencontrar e me descobrir cada vez mais. as vezes em forma de romance, outras vezes em forma de drama e outras em forma de poesia. mas são mais parte de mim que me fez conectar - comigo e com outros - e descobrir que todo o mundo me cabe desde que eu queira fazer parte dele.