última semana cínica

a última semana filosófica que tive foi a do cinismo. o cinismo tem como figura central Diógenes, que vivia como um cão. isso mesmo, um cachorro de rua, comendo restos de comida, andando descalço, dormindo em um barril, se banhando nas fontes das ruas e mordendo seus amigos. os cínicos negligenciam tudo que não que traz virtude, pois ser virtuoso é o que traz a felicidade. assim, negligenciam o dinheiro, as roupas, a higiene, a família e vivem de acordo com a sua natureza.
O cínico não rompeu a lei - como a história sobre ele ter desfigurado a moeda sugeria - nem solapou as convenções por meio de críticas teóricas. Em vez disso, ele ridicularizou aqueles que representavam o sistema de valores aceito e agiam como modelos de conduta, pessoas de alta posição que eram altamente consideradas pela sociedade. Ao destruir a base de todo o respeito, tornou-se ele próprio desprezível e, assim, o ridículo e a desprezibilidade eram parte de sua função; tornam-se a marca de sua independência da opinião aceita e da estima pública.
como uma boa cínica falhei miseravelmente e no primeiro dia acabei caindo na fraqueza de comprar roupas novas que quiçá estava precisando. veja bem, também não as comprei por mera vaidade - ou não completamente. essa jornada filosófica me ajudou a prestar atenção em mim, nas minhas vontades e um caminho para encontrar com quem eu busco ser. e dentro desse encontro de identidade, as roupas que me representavam já não cabiam mais - até literalmente - e as peças que comprei desenham meu novo eu, ou pelo menos também me ajudam a representar quem eu sou. não foi uma compra impulsionada apenas pelo desejo vazio de consumo, mas o desejo de me sentir representada de acordo com quem eu sou (ou acho que sou).
claro que pensando filosoficamente, eu deveria estar me desmembrando do olhar do outro sobre mim e desapegar da minha imagem como se fosse necessária para a construção de quem eu sou. mas a vida não é binária e sendo eu uma mulher, nascida e criada numa sociedade capitalista, a minha imagem externa ainda é um reflexo ou melhor, um complemento de quem eu sou. mas Diógenes se desapontaria comigo e sequer me morderia, visto que talvez pra ele eu nem seria digna de ser mordida.
não consegui ser uma boa cínica, mas consegui fazer boas reflexões e nessa semana também uma boa limpeza na casa tirando o que de fato já não me fazia sentido, o que era excesso. e me questionando também sobre o acúmulo de coisas e os valores sociais convencionais que vivemos. temos que fazer isso, temos que ter isso, temos que ter essa imagem, etc. e seguimos os passos e nunca encontramos a felicidade, porque não é sobre isso. ainda não consigo ser como Diógenes e abrir mão de tudo que tenho, embora saiba que minha felicidade não depende disso, mas essa visão cínica me traz reflexões e a vontade de viver mais próxima da minha natureza, buscando ser virtuosa.