viagem

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férias. programar, entrar num avião/ trem/ ônibus, reservar hotel e se preparar para descobrir o quase desconhecido - afinal de contas, depois da internet poucas coisas ainda são uma grande novidade. antes viajar pra mim era uma coisa meio visceral, saca? eu já tive planos de viajar 12 vezes por ano (pelo menos uma vez por mês) e ficar fora e aproveitar o máximo que podia. mal sabia que a tentativa (frustrada diga-se de passagem) era de fugir de mim; de quem eu era, da vida que eu vivia. pelo menos 12 vezes no ano, ainda que fosse um final de semana ou uma emenda de feriado, eu me via livre para não ser quem todo mundo esperava que eu fosse. era livre do trabalho que eu não gostava. era livre de situações que eu não queria lidar. morava ainda com meus pais, então estar fora da casa deles também era uma situação de alívio. mas não se enxerga essas coisas quando se é jovem. a gente apenas vai vivendo. hoje em dia tenho mais condições financeiras e mais tempo pra viajar e ficar fora. mas a urgência de fazer isso foi se diluindo - tirando o fator pandemia, é claro. hoje viajar pra mim é mais uma extensão de história, pensamentos e descanso do que uma fuga para o desconhecido. pelo contrário na verdade, muitas vezes é sobre imersão. ficar em um lugar, descobrir o não óbvio e até cansar dele. não ter que viver tudo até o último segundo, mas me permitir fazer nada e descansar, afinal de contas, viagem também é isso. descanso. calmaria. e também aprender, descobrir a história, não querer retratar apenas o óbvio. nas minúcias que vão aparecendo novos caminhos. as memórias que mais levo de viagens são trocas com desconhecidos, um caminho não planejado, uma comida fora de hora. claro que há beleza em visitar a Torre Eiffel ou tirar uma foto nos canais de Veneza. mas é no oculto que mora a história. provavelmente alguém (ou alguns) viveu uma experiência incrível em Roma ou em Atenas, mas dificilmente conseguir-se-á experienciar a mesma sensação a qual transformou a vida de alguém. assim como a vida toda, o bom está em estar presente, a presença sim faz a viagem - por nós mesmos até - ser inesquecível.